Certamente você já se deparou com algum jovem com reações e decisões claramente imaturas. Você acabou desculpando, afinal conforme o ditado popular “a juventude tudo perdoa”. No mesmo sentido, você pode ter visto uma pessoa avançada na idade e pensou no íntimo: Quanta sabedoria!
Essas situações apesar de corriqueiras, sobretudo esta última, tem-se tornado cada vez mais raras. Atualmente, um crescente número de pessoas adultas tem se comportado de forma cada vez mais infantil. Eventualmente, encontramos alguns que, de forma precoce, nos surpreendem com grande maturidade.
A verdade é que o comportamento humano, sobretudo quanto à interação entre idade cronológica e maturidade, tem sido alvo do estudo da psicologia: compreender de forma mais clara o acompanhamento das fases da vida, desde o começo até o declínio do ser humano.
Faz-se necessário, cada vez mais, entender, ter empatia pela pessoa que está à minha frente e observá-la não como um estorvo, mas alguém que vive uma realidade específica da vida. Esta pessoa muitas vezes me é desconhecida, mas exige um olhar de cuidado, que deve anteceder o julgamento/condenação.
Na complexidade que envolve o ser humano, precisamos levar em consideração a fase da vida do ponto vista físico, as crises que são tão próprias de cada idade, e principalmente a Pessoa como um todo. Esta percepção, como na vida de Jesus, favorece a cada um perceber o que se espera de cada fase.
Destacamos algumas características próprias de cada idade, sempre considerando variações conforme o caso.
a) Juventude (até 30 anos) – Juventude e vida adulta jovem (18 a 25 anos)
– Primeiro amor: apaixonamento, comum na juventude, motivado pelos afetos e grandes desejos;
– Existe a chamada de segunda adolescência (prolongamento artificial da adolescência – uma marca dos nossos tempos) – a adolescência acaba quando o indivíduo chega à autonomia e à responsabilidade plena;
– Estruturas intelectuais e morais atingem o auge; diminuem as mudanças fisiológicas, há estabilidade afetiva, ingresso na vida social, plena, início do trabalho e /ou estudos superiores; é também frequente o começo da vida matrimonial. A pessoa atinge o autossustento social, psicológico e econômico;
– Etapa marcante do encontro de gerações;
– É o período em que as pessoas começam a modelar o seu projeto de vida, sua vocação;
– Necessidade premente de estar juntos, de compartilhar experiências, de abrir-se para a mutua intimidade, para o profundo, para o interior. Paradoxalmente, porém, enriquece e fortalece a identidade individual… Necessidade de estarem juntos, de partilhas, do grupo para esse mesmo desenvolvimento individual.
b) Jovem adulto (depois dos 30 anos)
– Vida adulta média: amadurecimento e crise da meia-idade (30 a 50 anos). Ocorrem as maiores realizações, muitos compromissos e maiores responsabilidades;
– Fase de ajuste, a da exuberância do vigor a vulnerabilidade pela falta de experiência;
– Descobre-se o valor pela provação
– Provação afetiva: obrigatória para quem quer amar a Deus – é sadia quando me leva a decidir pela opção fundamental;
– A diferença entre a fase anterior não tem mudanças corporais específicas, mas uma mudança de estado de ânimo;
– Visão global objetiva do mundo. Supõe experiência vital e a saída de si mesmo, assim como inclusão da morte no plano de vida;
– Aceitação das limitações e possibilidades tanto da realidade externa quanto da interna;
c) Idade adulta (40 e 50 anos) a crise da meia idade
– Fase de integração: peregrina em busca de si mesmo, busca de identificação, processo de renascimento, reencontrar os valores, reelaborar, rever a própria vida, escolher novamente opções já definidas – mudanças fisiológicas, necessidade de integrar, buscar as razões fundamentais, fidelidade criativa e não repetitiva (o amor cresce pela qualidade e não pela quantidade);
– Medo de morrer: não querer mais a vida ofertada. Exorcizar o fantasma da morte (reconciliação com a morte e com o envelhecimento, nosso e dos próximos);
– Absolutização do sexo: como ídolo da imortalidade (sucesso, atitudes de adolescente, autoafirmação) – corre-se o risco de a abstinência ser uma frustração.
d) Início da terceira idade (a partir dos 60 anos)
– Risco da desvalorização e da marginalização (não produzem mais, consomem e a idealização da juventude na sociedade hodierna);
-Risco do egoísmo senil: afastam o olhar do fim que se aproxima, apegando-se no estágio vital ado e tentando se equiparar aos jovens, um afã de valer, de dominar tiranicamente seu meio; quando se aceita a “crise do desprendimento” surge a imagem do idoso cujo valor é a sabedoria. O indivíduo sábio é aquele que tem consciência do fim e o aceita;
– Irradia a sabedoria e a experiência, seu comportamento manifesta a transparência da sua vida. Ressaltam-se sua experiência e sua capacidade de julgamento;
– Modificações corporais notórias entre 75 e 80 anos, perde a mobilidade, agilidade e autonomia, seus movimentos são mais desajeitados; perda de reflexos;
– Mudanças psicológicas: sentimentos depressivos de perda e temores pela crescente vulnerabilidade e lentidão do corpo para adaptar-se às exigências do meio. Diminui a autoestima, o que leva os idosos a negar o envelhecimento ou a atribuir todos os seus problemas as dores físicas, projetando todos os seus conflitos e inseguranças no corpo (tendência à hipocondria).
Evidentemente que não se busca esgotar as possibilidades, mas apontar sinais que sirvam de orientação para favorecer uma melhor compreensão dos mais recentes estudos sobre o tema. Vejamos o que duas psicólogas falam sobre o tema*:
– Qual a importância do conhecimento das fases da vida humana?
Mariana Daros – O estudo do ser humano, do ponto de vista psicológico, mostra que algumas fases da vida se repetem em pessoas diferentes. Assim, conhecendo-as podemos perceber as reações até diria esperadas para responder aos desafios e atravessar crises com a fortaleza e resiliência adequada sem deixar ser arrastados por elas.
Daniele Cajaseiras – Acho esse conhecimento importante por gerar mais autoconhecimento. Ao sabermos as características principais das fases de nossa vida, podemos saber o que esperar do nosso desenvolvimento humano e contribuir com ele. Também nos ajuda a ar pelas crises próprias do desenvolvimento com maior tranquilidade, visto que perceberemos que é o esperado para aquela fase. Ajuda também em relação à maturidade, pois ao vermos as características das fases podemos comparar o nosso nível de maturidade humana com o nível que é esperado para cada fase.
– Como relacionar a fase da vida da pessoa e maturidade humana? Há algum reflexo na vida espiritual?
Mariana Daros – Nós podemos entender a maturidade humana como a capacidade da pessoa, na sua própria fase, de viver plenamente aquele momento. Por isso, que encontramos jovens tão maduros pois vivem a sua juventude de forma plena e responsável. Diria mais, de forma integrada com a sua vida. Infelizmente também encontramos adultos que não responde à sua fase cronológica e biológica da mesma forma, com atitudes e escolhas adequadas. A verdade é que uma coisa não está atrelada à outra. Existem jovens que segundo a Palavra de Deus recebem a “sabedoria dos cabelos brancos”. Em suma, a maturidade está ligada à forma de viver cada aspecto do desenvolvimento, que compreende ainda as crises comuns a esse tempo. O reflexo na vida espiritual é evidente, pois o ser humano é um “ser íntegro” de modo que a boa vivência na sua saúde espiritual e humana ensejam uma maturidade completa. Um bom exemplo é a observância na vida dos santos, pois fica claro que não é a idade cronológica quem dita as respostas adequadas aos desafios vividos por cada um deles.
Daniele Cajaseiras – Existem características da maturidade humana esperadas para cada fase da vida. A maturidade de um adolescente é diferente da maturidade de um adulto jovem etc. Na vida espiritual existe sim um reflexo da maturidade humana. Quanto mais madura humanamente for a pessoa mais probabilidade de viver a vida espiritual de forma adequada.
*Mariana Daros é psicóloga pela UFPR e membro da comunidade de vida Shalom. É celibatária e atualmente compõe a Assistência de Formação da Comunidade Católica Shalom.
*Daniele Cajaseiras é psicóloga formada pela UNIFOR e membro da Comunidade de Aliança Shalom.
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