A Igreja vai realizar o terceiro Conclave deste século: em 2005, vivemos a páscoa do Santo Papa João Paulo II, seguida pelo Conclave que elegeu Bento XVI; após oito anos de Pontificado, com a sua renúncia, em 2013 tivemos o Conclave que elegeu Francisco, cujo pontificado durou doze anos, e cuja páscoa ainda estamos sentindo. Conforme a bimilenar tradição da Igreja, um novo Conclave foi convocado para eleger o novo Pontífice, aquele que será o Vigário de Cristo na terra. Mas, para além dos ritos e estruturas de um conclave, podemos ver o quanto há de humano e de espiritual na eleição de um Papa? Ou será que devemos, como muitos insistem em publicar, temer quanto ao futuro da Igreja?
Em primeiro lugar eu gostaria de lançar o olhar para o Evangelho e, a partir dele, observar os sinais do tempo presente, porque o próprio Cristo ensinou que devemos olhar para além das aparências e discernir os sinais dos tempos (cf. Lc 12,54-56). É necessário, portanto, ouvir o que o “Espírito diz à Igreja” em cada tempo. Assim, quais são os sinais da Providência de Deus dentro dos acontecimentos presentes? Como devemos lê-los e interpretá-los?
Em primeiro lugar, não podemos ser indiferentes ao fato que, pela segunda vez, neste século, um Papa morre no período pascal, precisamente na oitava da Páscoa que, no seu sentido mais profundo, representa um único dia. Precisamente no dia em que a Igreja proclama que Cristo ressuscitou, venceu o mal e a morte, que abriu para nós as portas da eternidade, inicia um novo tempo para a Igreja. Ao proclamar que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos, a Igreja está testemunhando que Ele está vivo! Ele não é um personagem confinado num ado distante, preso ao tempo e à história, cuja memória nos enche de bons sentimentos e cujo ensinamento é importante para a moral e os bons costumes. Não! Cristo vive para sempre e somente por Ele temos vida! Todos nós assistimos o esforço de Francisco para conceder a benção urbi et orbi antes de partir.
>> O que temos a ver com o Conclave?
Mais ainda, na mensagem dirigida à multidão de fiéis nesse último Angelus, ele recordou-nos que a Páscoa “põe-nos em movimento” e nos convida “a ter olhos capazes de ‘ver mais além’, para vislumbrar Jesus, o Vivente, como o Deus que se revela e ainda hoje se torna presente, nos fala, nos precede, nos surpreende”. Francisco encerrou o seu ministério proclamando a vitória de Cristo sobre a morte e o mal e convidando-nos a viver como homens e mulheres ressuscitados. Outro sinal que deve ser observado é que o Conclave para a eleição do novo Pontífice acontecerá dentro do ano jubilar da Esperança.
Na Bula de proclamação do Jubileu, Francisco manifestou o desejo de que este ano “seja para toda a Igreja, uma intensa experiência de graça e de esperança”. Assim, este acontecimento inesperado da morte do Papa e as consequências eclesiais que dele decorrem, não estará excluído da manifestação da misericórdia divina presente no ano jubilar, uma vez que “arquitrave que a a vida da Igreja é a misericórdia” . Ao longo da sua história a Igreja é testemunha de que nada está fora do olhar misericordioso de Deus.
Observamos, ainda, que a Esposa de Cristo não é guiada pelo acaso, à balia dos ventos e das ideologias, mas sustentada e guiada pelo Espírito Santo, que é o seu princípio vital. Já os Padres da Igreja compreendiam e ensinavam esta verdade: Santo Irineu (†202) ao expressar a ação do Espírito na Igreja disse que a ela foi confiado o dom de Deus, porque “é nela que foi depositada a comunhão com Cristo, isto é, o Espírito Santo, penhor da incorruptibilidade”; da mesma forma Santo Hipólito (160-235), na sua Tradição Apostólica, ao falar sobre a importância e o dever da oração, recomenda aos fiéis que “se apressem a ir para a igreja, onde o Espírito floresce” ; Santo Agostinho (354-430), por sua vez, no Sermão para o dia de Pentecostes, ensinou que:
“o que a alma é para o corpo humano, o Espírito Santo é para o corpo de Cristo, a Igreja. O Espírito Santo faz em toda a Igreja o que faz a alma em todos os membros de um mesmo corpo”.
Esta compreensão também foi ensinada pelos Pontífices, dos quais podemos citar Leão XIII, ao afirmar que sendo Cristo a cabeça da Igreja, o Espírito é como a sua alma5 , também Pio XII na Encíclia Mystici corporis Christi6 ratificou o mesmo ensinamento. O Concílio Vaticano II também reafirmou que o Espírito Santo é o santificador e vivificador da Igreja.
Um sinal que não pode ar despercebido é que a leitura do Evangelho da segunda-feira 21 de abril de 2025, dia em que Francisco fez sua páscoa, foi Mt 28,8-15, e neste perícope as mulheres, tendo encontrado o sepulcro vazio, partem para dar a notícia aos discípulos, mas Jesus lhes aparece e diz: “Alegrai-vos!”. A alegria foi precisamente uma marca característica do pontificado de Francisco, que surpreendeu a todos com a sua primeira Exortação Apostólica, ensinando-nos que “a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus” , e exortando-nos a uma nova etapa de evangelização marcada por esta alegria.
Não podemos ignorar o fato de que naquela semana a Igreja estava vivendo o Jubileu dos adolescentes, que culminaria com a canonização do Beato Carlo Acutis. Portanto, milhares de peregrinos jovens estavam se dirigindo para Roma e, providencialmente, foram inseridos em outro evento eclesial de fé e esperança. Assim, Francisco foi velado por uma multidão de jovens, realizando o encontro entre gerações que ele tanto nos ensinou. A “mudança de programa” desse jubileu não será recordada como uma frustração, mas como um sinal de esperança.
Por Josefa Alves
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